quarta-feira, 12 de outubro de 2016

PERSONAGENS: Chino Perico
"O mistério de Urquiza foi Milonguita"

Uma lenda viva da milonga, o qual tenho a fortuna de conhecer, Ricardo Ponce, concedeu uma entrevista ao Jornal Diario Clarín em agosto de 2.012. Contou  segredos do estilo e de onde vem o prestígio histórico e imbatível dos salões de Villa Urquiza. Vale a leitura!

Irene Amuchástegui
Às cinco da tarde, Ricardo Ponce emerge das profundezas do Ministério da Economia. Por quase três décadas, passa oito horas por dia no segundo subsolo; sua missão improvável é garantir a transparência da carteira de Fazenda, como encarregado de Vidriería do edifício.

Ponce é conhecido nos salões de tango de Villa Urquiza, Saavedra e do Centro como Chino Perico e famoso por seu estilo de dança.Nascido em São Luís, penúltimo de doze filhos, chegou a Buenos Aires com sua mãe quatro anos, e desde quinze freqüenta clubes, milongas de tango e práticas. Ele conheceu os bailes com grandes orquestras dos defensores da Florida meados dos anos 50, e fez parte da resistência dos Gotan, Beccar nos anos 70. Ele se orgulha de nunca ter subido no palco como profissional e raramente se apresenta na pista. Perico afirma que o "milonguero perde o anjo" quando se profissionaliza.

Durante muitos anos, testemunhou muitas mudanças nas tendências em estilos de baile?

Agora, há duas ou três aulas de dança, e é esse estilo chamado de "milonguero", que não é milonguero: é um baile apertado, de passos curtos, inventados em Almagro, uma sala que não era apreciada justamente pelos milongueros, porque era um lugar para flertar. O resto, tudo o que se faz agora, em nível de passos, nós já fizemos.

A tradição mais reconhecida é a de Villa Urquiza. Como este estilo de dança que se originou identifica o bairro?

Esse estilo é ritmo e elegância. O mistério de Villa Urquiza era um senhor chamado Luis Lemos, que chamavam Milonguita. Nunca houve dançarino semelhante. Se vestia como um Doutor, Fazias paletós e sapatos sob medida, tinha uma elegância única e era um anjo quando estava dançando. Ele inspirou o estilo do bairro desde 45 em diante: os meninos não queriam superar-lo, mas, pelo menos, aproximar-se dele; naquele tempo, em Villa Urquiza, parar-se com elegância, era tudo.  Se via aqueles meninos e aquelas meninas e não se sabia quem escolher.Ficavam esticados, não tinham uma ruga. Cheguei a ser amigo de Milonguita.

Como escolhe alguém para dançar?

A verdade, eu fui mudando.  Até os 25, eu dançava com as meninas que dançavam bem. Mas então eu comecei a me aborrecer de ver as meninas que não dançavam, e uma vez que uma delas me disse: "Chino, por que você não dança uma música comigo? Se os demais me veem bailando contigo, todos me convidam, E depois: "Obrigado, Chino, dancei a noite toda". Em outra época, bailava com quem eu gostava, eu não me importava que não sabia nada, se pisava com os pés em cima dos meus. Agora eu danç com as amigas, e às vezes eu fico sentado, conversar com os rapazes, tomando uma bebida e outra. Até ouvir um tango que eu particularmente gosto, por exemplo, “Se va El tren”, de Miguel Caló, e então, sim, tenho que ir dançar.

Que orquestras prefere dançar?

Eu danço com qualquer orquestra. Em suas épocas, segui a Troilo e Pugliese. Você dança com a orquestra: se eu dançar com D'Arienzo ou Tanturi, as pausas são mais curtas; com Pugliese, elas crescem. Miguel Caló eu realmente gosto, não há melhor orquestra para encantar uma menina.

Cresceu em Buenos Aires e se tornou bailarino. Como foi sua chegada de Villa Mercedes?

Eu vim pequeno, com a pena atrás da orelha, como se diz. Era de fora. Fiquei de boca aberta olhando as casas altas.

Na milonga, também lhe custou integrar-se?


Não.Quem dança se defende na pista.

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